quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O trote do sequestro

Hoje minha irmã foi sequestrada.

Pelo menos foi o que o cara do outro lado do telefone disse.


Depois de tanto fuzuê que a mídia fez a respeito do trote do sequestro, a gente acabou pensando que tudo isso havia acabado ou mesmo esquecido - na verdade, as coisas são assim mesmo: a mídia faz um auê quando o assunto está "na moda" e depois eles simplesmente não falam mais nada. Bom, aí a gente se esquece e nunca espera que um cara que tá sabe-se-lá onde vai ligar em casa pra dizer que sequestrou um de nossos familiares.

Mas os caras certamente estão em alguma prisão e, como não têm muito o que fazer lá dentro, arrumam um celular com seus companheiros de fora da cadeia pra que eles possam brincar um pouquinho. Aliás, deve ser bem divertido, não? Ligar pra um número qualquer e fazer aquele estardalhaço dizendo que estão com "sua filha".

O mais legal é quando eles vêm com um papo de que pegaram "seu filho", sendo que você só tem duas meninas. Ou então quando o seu filho único está dormindo ou jantando bem na sua frente. Mas pior é quando a vítima nem filho tem.

Só que pra eles não importa. É um roleta-russa. Se errarem, tentam outra vez. Mas o sacrifício de ligar pra incontáveis números de telefone desconhecidos vale a pena. Afinal, vai que um troxa acredita naquela novela toda? Na verdade, esses caras estão é sendo desperdiçados na cadeia. Poderiam muito bem montar um grupo teatral. Eles parecem ter o "dom da coisa", sabe? E eles são bons. Prestam atenção em todos os detalhes e ficam esperando a vítima dizer o nome do suposto ente sequestrado.

Minha mãe acabou falando o nome da minha irmã, sem querer. Os bacanas ligaram a cobrar (minha irmã sempre liga a cobrar pra casa) e logo começaram com uma gritaria, uma cena que eu gostaria de ver.

- Mãe! Mãe! Sou eu! Me pegaram! Eles me pegaram, mãe! - O fulano que faz a voz feminia é um ator nato. Aplausos.

Aí minha mãe, coitada, logo passou o telefone pro namorado da minha irmã, naquele desespero. Acabou falando o nome dela e aí pronto.

- É! É ela mesmo! Nós a pegamos* e queremos R$10.000,oo! - Tudo isso pra dez mil? Minha irmã vale dez mil??? Palhaçada!

Sorte que minha mãe foi rápida. Pegou outro telefone e ligou pra ela. Sorte, também, que minha irmã resolveu atender o celular. Ela estava bem, saindo da aula, e logo estaria em casa. Mesmo assim, foi um baita susto.


* É claro que os bonitinhos não falam correto assim, mas eu não aguento deixar um "pegamos ela" aqui.

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